O desafio de manter a saúde do rebanho e da equipe da fazenda de leite em tempos de COVID-19.

O desafio de manter a saúde do rebanho e da equipe da fazenda de leite em tempos de COVID-19.

Diversos setores da economia foram atingidos com a pandemia da COVID-19, inclusive, toda a cadeia produtiva leiteira. Apesar da situação atual de recomendação de isolamento social em diversas regiões do país, a realidade dentro das fazendas leiteiras é de manutenção dos cuidados com os animais assegurando o acesso dos animais aos alimentos, manutenção da saúde e manejos necessários no dia-a-dia da atividade leiteira. Também temos todo o envolvimento dos funcionários da fazenda que são responsáveis pela programação e execução dessas atividades dentro da propriedade e não podemos deixar de cuidar da saúde desses funcionários.

Os temas sobre a manutenção do Bem-Estar Animal e a capacitação da equipe em boas práticas dentro da fazenda andam juntos e o tema biosseguridade dentro das propriedades leiteiras torna-se essencial no contexto atual. Ao longo do artigo discutiremos alguns pontos importantes sobre cuidados que incluem algumas medidas de biosseguridade e que podem fazer diferença no combate da COVID-19 dentro da fazenda.

O termo biosseguridade refere-se ao conjunto de práticas de manejo adotadas na propriedade leiteira que tem como objetivo reduzir as chances de introdução ou transmissão de agentes causadores de doenças tanto para os animais quanto para os humanos ou que possam comprometer a segurança alimentar do leite produzido na propriedade. Um dos primeiros passos para implementação das medidas de biosseguridade é a definição de procedimentos relacionadas à área suja ou externa e área limpa ou interna. As medidas de biosseguridade para área suja ou externa estão relacionadas às estratégias de prevenção da entrada ou introdução de agentes patogênicos na propriedade leiteira, e as medidas de biosseguridade interna estão relacionadas à redução da probabilidade da transmissão de agentes já presentes no rebanho (SOBESTIANSKY, 2002; PEGORARO, 2018).

Essas áreas podem ser definidas e separadas através de grades, alambrados, portões ou correntes e devem ter placas com sinalização e instruções claras sobre o procedimento operacional padrão (POP) de entrada nas diferentes áreas. Como exemplos dos principais pontos críticos de controle da biosseguridade externa temos o acesso ao interior da propriedade (funcionários, prestadores de serviços terceirizados, técnicos, veterinários e veículos em geral), introdução de novos animais na propriedade, práticas veterinárias e quarentena. Para a biosseguridade externa temos o uso de EPIs (Equipamentos de proteção individual), manejo dos animais e lotes, armazenamento de insumos, limpeza e desinfecção das instalações, equipamentos e cochos. No contexto atual, vamos abordar detalhes de dois pontos críticos que podem mitigar a transmissão do vírus da COVID-19 dentro da fazenda.

O acesso ao interior da propriedade é um ponto crítico com relação à biosseguridade da fazenda de leite. O livre acesso de pessoas e veículos deve ser sempre evitado e quando necessário, deve ser registrado. Exemplos comuns na propriedade de leite são o caminhão que capta o leite, o caminhão que entrega ingredientes da dieta ou ração, prestadores de serviço terceirizados e visitantes em geral tenham o acesso restrito e controlado à propriedade. Devem ter acesso somente às áreas nas quais o rebanho leiteiro não esteja presente. Definir áreas especificas de trânsito de veículos e, se possível, devem estar em locais diferentes das áreas de trânsito de animais. A equipe de funcionários da fazenda deve ser capacitada e ter conhecimento sobre o programa e medidas de biosseguridade da propriedade. A reciclagem periódica é essencial. Os profissionais como técnicos e médicos-veterinários prestadores de serviço também devem ter conhecimento sobre os procedimentos de biosseguridade das propriedades.

O uso dos EPIs (Equipamentos de Proteção Individuais) como botas, macacões, aventais, luvas, máscaras, toucas e capacetes são importantes e cada funcionário ou prestador de serviços deve possuir seus próprios equipamentos mantendo-os limpos e não devem ser utilizados fora da propriedade. Na atual situação, os procedimentos básicos para evitar a transmissão do vírus da COVID-19 são a lavagem sistemática das mãos com água e sabão ou uso de álcool gel para desinfecção e uso de máscaras (segundo recomendação do Ministério da Saúde).

Nesse artigo tentamos resumir os principais pontos críticos para manutenção da saúde do rebanho e da equipe da fazenda de leite assegurando a produção leiteira, a saúde e o bem-estar dos animais. Vale ressaltar que até o momento, segundo a OIE, não existe nenhuma evidência de que bovinos possam ser infectados ou transmitir para humanos o vírus da COVID-19. A capacitação e orientação da equipe da fazenda para boas práticas de higienização e uso correto dos EPIs, além do controle do acesso de pessoas na propriedade tornam-se extremamente relevantes nesse período de pandemia.

E você, como estão os cuidados e prevenção na sua fazenda?

Autores:

Roulber Carvalho Gomes da Silva

Médico Veterinário – UNESP/Araçatuba

Mestre e Doutor em Qualidade e Produtividade Animal – USP/Pirassununga

Gerente Técnico de Grandes Animais - Boehringer Ingelheim Animal Health

Eduardo Macedo Pires

Médico Veterinário - UFG

Mestre em Produção Animal Sustentável – UNICAMP/IZ-SP

Coordenador Técnico de Gado de Leite - Boehringer Ingelheim Animal Health

Fonte: MilkPoint